Antígone
Resumo elaborado e apresentado no
Curso de Direito. 1º Período. Fev/2012. Teoria Geral do Direito. Profª Dra
Maria Edelvacy Pinto Marinho.
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Em
“Antígone”, Sófocles busca evidenciar algumas contradições entre as leis
divinas e as leis humanas de seu tempo. A questão central é apresentada logo no
início da obra, quando Antígone, filha de Édipo, trata com sua irmã Ismênia
acerca do edito referente Etéocles e Polinice, que morreram lutando um contra o
outro: “Pois não sabes que Creontes
concedeu a um de nossos irmãos, e negou ao outro, as honras da sepultura?”
(p. 6)
Ismênia, ciente
do fato, da sua condição de mulher e submissa às ordens impostas, e da punição
sumária a quem desobecesse a ordem do rei indaga a Antígone: “... em tais situações, em que te posso eu
valer, quer por palavras, quer por atos?” (p. 7).
Antígone está decidida
a desobedecer ao rei, em obediência à lei divina que manda não abandonar os
seus. Ismênia, ao contrário, sentindo-se totalmente submetida às ordens do
poder político instituído recusa-se a desobedecer e a tentar o que considera uma
loucura. Não admite, com isso, que esteja desprezando as leis divinas; apenas
sente que não tem forças para contrariar as leis soberanas da cidade – o que,
para Antígone, não passa de um pretexto.
Convicta de sua
obrigação como irmã Antígone foi e sepultou o irmão, sozinha. Apanhada,
confessou a Creonte e justificou sua desobediência ao edito:
“Sim, porque não
foi Júpiter que a promulgou; e a Justiça, a deusa que habita com as divindades
subterrâneas jamais estabeleceu tal decreto entre os humanos; nem eu creio que
teu édito tenha força bastante para conferir a um mortal o poder de infringir
as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis; não existem a
partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! E ninguém sabe desde quando
vigoram.”
(p. 30)
Creonte, que se tornou
rei graças à morte de Etéocles e Polinicie, defende seu decreto sob o argumento
de que na luta entre os irmãos apenas o primeiro merecia honras, pois morreu
defendendo Tebas da ambição e do ataque do segundo que retornou do exílio com o
propósito de destruir totalmente o país e os deuses de seus pais, derramar
sangue e submeter o seu povo à escravidão. Como rei soberano não poderia demonstrar
clemência a qualquer ato ou cidadão que ameaçasse a cidade ou a felicidade e o
bem estar do seu povo. “Quem preza a um
amigo mais que à própria Pátria, esse merece desprezo!” (p. 15) “Eis aí como penso; jamais criminosos obterão
de mim qualquer honraria. Ao contrário, quem prestar benefícios a Tebas, terá
de mim, enquanto eu viver, e depois de minha morte, todas as honras possíveis!”
(p. 16) Em síntese, aos amigos do país todas as honras; aos inimigos os rigores
da lei.
A situação se
torna especialmente tensa por ser Antígone sobrinha de Creonte e noiva do seu
filho Hemom o qual, mesmo não querendo contrariar seu pai, discorda dele, tenta
mostrar que a sua ordem está equivocada e que, com ela, está atraindo o
descontentamento, a oposição e a revolta dos cidadãos de Tebas.
“Que mais belo
florão podem ter os filhos, do que a glória de seu pai; e que melhor alegria
terá o pai do que a glória dos filhos? Mas não creias que só tuas decisões
sejam acertadas e justas... Todos quantos pensam que só eles têm inteligência,
e o dom da palavra, e um espírito superior, ah! Esses, quando de perto os
examinarmos, mostrar-se-ão inteiramente vazios! Por muito sábios que nos
julguemos, não há dessas em aprender ainda mais, e em não persistir em juízos
errôneos...” (p. 46). “Cede, pois, no teu íntimo, e revoga teu édito.” (p. 47)
Creonte
mantém-se irredutível, ordenando aos guardas que prendam Antígone numa gruta na
rocha para que morra, sem água e sem comida. Sua decisão muda, subitamente,
quando o oráculo de Tirésias lhe é apresentado, aconselhando-o a ceder para não
atrair sobre si uma desgraça ainda maior:
“O
erro é comum entre os homens: mas quando aquele que é sensato comete uma falta,
é feliz quando pode reparar o mal que praticou, e não permanece renitente. A
teimosia produz a imprudência. Cede diante da majestade da morte: não profanes
um cadáver!” (p. 63)
“... eu próprio que ordenei a prisão de
Antígone irei, libertá-la! Agora, sim, eu creio que é bem melhor passar a vida
obedecendo as leis que regem o mundo!” (p. 69) Com essa frase, Creonte
parte para sepultar Polinice e libertar Antígone da prisão. Já era tarde.
Antigone havia se enforcado. Hemom suicidou-se na presença do pai, junto ao
corpo da noiva. Eurípedes, ao saber da notícia suicidou-se amaldiçoando
Creonte, culpado por toda a desgraça. A tragédia que apresenta inicialmente um
Creonte soberano acima de tudo e de todos, senhor da vida e da morte de seus
súditos, encerra com o mesmo Creonte numa condição miserável, implorando pela
própria morte.
Bibliografia:
- SÓFOCLES
(476 aC – 406 aC). Antígone. Tradução J B de Mello e Souza. Versão para
ebook (eBooksBrasil.com). 2005.
Bibliografia complementar:
Em 1946, o francês Jean Anouilh publicou uma releitura da obra original, mantendo fidedignidade à mesma, porém, inserindo de maneira brilhante alguns atos e utilizando uma linguagem direcionada aos franceses que, naquele momento, resistiam à dominação nazista. Vale a pena.
- ANOUILH, Jean. Antígona. Tradução Sidney Barbosa. Brasília/DF. Editora Universidade de Brasília, 2009.