sábado, 3 de março de 2012

ANTÍGONE - Sófocles (476aC - 406aC)


Antígone
Resumo elaborado e apresentado no Curso de Direito. 1º Período. Fev/2012. Teoria Geral do Direito. Profª Dra Maria Edelvacy Pinto Marinho.

Imagem disponível no Google
Em “Antígone”, Sófocles busca evidenciar algumas contradições entre as leis divinas e as leis humanas de seu tempo. A questão central é apresentada logo no início da obra, quando Antígone, filha de Édipo, trata com sua irmã Ismênia acerca do edito referente Etéocles e Polinice, que morreram lutando um contra o outro: “Pois não sabes que Creontes concedeu a um de nossos irmãos, e negou ao outro, as honras da sepultura?” (p. 6)
Ismênia, ciente do fato, da sua condição de mulher e submissa às ordens impostas, e da punição sumária a quem desobecesse a ordem do rei indaga a Antígone: “... em tais situações, em que te posso eu valer, quer por palavras, quer por atos?” (p. 7).
Antígone está decidida a desobedecer ao rei, em obediência à lei divina que manda não abandonar os seus. Ismênia, ao contrário, sentindo-se totalmente submetida às ordens do poder político instituído recusa-se a desobedecer e a tentar o que considera uma loucura. Não admite, com isso, que esteja desprezando as leis divinas; apenas sente que não tem forças para contrariar as leis soberanas da cidade – o que, para Antígone, não passa de um pretexto.
Convicta de sua obrigação como irmã Antígone foi e sepultou o irmão, sozinha. Apanhada, confessou a Creonte e justificou sua desobediência ao edito:
“Sim, porque não foi Júpiter que a promulgou; e a Justiça, a deusa que habita com as divindades subterrâneas jamais estabeleceu tal decreto entre os humanos; nem eu creio que teu édito tenha força bastante para conferir a um mortal o poder de infringir as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis; não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! E ninguém sabe desde quando vigoram.” (p. 30)
Creonte, que se tornou rei graças à morte de Etéocles e Polinicie, defende seu decreto sob o argumento de que na luta entre os irmãos apenas o primeiro merecia honras, pois morreu defendendo Tebas da ambição e do ataque do segundo que retornou do exílio com o propósito de destruir totalmente o país e os deuses de seus pais, derramar sangue e submeter o seu povo à escravidão. Como rei soberano não poderia demonstrar clemência a qualquer ato ou cidadão que ameaçasse a cidade ou a felicidade e o bem estar do seu povo. “Quem preza a um amigo mais que à própria Pátria, esse merece desprezo!” (p. 15) “Eis aí como penso; jamais criminosos obterão de mim qualquer honraria. Ao contrário, quem prestar benefícios a Tebas, terá de mim, enquanto eu viver, e depois de minha morte, todas as honras possíveis!” (p. 16) Em síntese, aos amigos do país todas as honras; aos inimigos os rigores da lei.
A situação se torna especialmente tensa por ser Antígone sobrinha de Creonte e noiva do seu filho Hemom o qual, mesmo não querendo contrariar seu pai, discorda dele, tenta mostrar que a sua ordem está equivocada e que, com ela, está atraindo o descontentamento, a oposição e a revolta dos cidadãos de Tebas.
“Que mais belo florão podem ter os filhos, do que a glória de seu pai; e que melhor alegria terá o pai do que a glória dos filhos? Mas não creias que só tuas decisões sejam acertadas e justas... Todos quantos pensam que só eles têm inteligência, e o dom da palavra, e um espírito superior, ah! Esses, quando de perto os examinarmos, mostrar-se-ão inteiramente vazios! Por muito sábios que nos julguemos, não há dessas em aprender ainda mais, e em não persistir em juízos errôneos...” (p. 46). “Cede, pois, no teu íntimo, e revoga teu édito.” (p. 47)
Creonte mantém-se irredutível, ordenando aos guardas que prendam Antígone numa gruta na rocha para que morra, sem água e sem comida. Sua decisão muda, subitamente, quando o oráculo de Tirésias lhe é apresentado, aconselhando-o a ceder para não atrair sobre si uma desgraça ainda maior:
“O erro é comum entre os homens: mas quando aquele que é sensato comete uma falta, é feliz quando pode reparar o mal que praticou, e não permanece renitente. A teimosia produz a imprudência. Cede diante da majestade da morte: não profanes um cadáver!” (p. 63)
... eu próprio que ordenei a prisão de Antígone irei, libertá-la! Agora, sim, eu creio que é bem melhor passar a vida obedecendo as leis que regem o mundo!” (p. 69) Com essa frase, Creonte parte para sepultar Polinice e libertar Antígone da prisão. Já era tarde. Antigone havia se enforcado. Hemom suicidou-se na presença do pai, junto ao corpo da noiva. Eurípedes, ao saber da notícia suicidou-se amaldiçoando Creonte, culpado por toda a desgraça. A tragédia que apresenta inicialmente um Creonte soberano acima de tudo e de todos, senhor da vida e da morte de seus súditos, encerra com o mesmo Creonte numa condição miserável, implorando pela própria morte.

Bibliografia:
  • SÓFOCLES (476 aC – 406 aC). Antígone. Tradução J B de Mello e Souza. Versão para ebook (eBooksBrasil.com). 2005.

Bibliografia complementar
Em 1946, o francês Jean Anouilh publicou uma releitura da obra original, mantendo fidedignidade à mesma, porém, inserindo de maneira brilhante alguns atos e utilizando uma linguagem  direcionada aos franceses que, naquele momento, resistiam à dominação nazista. Vale a pena.
  • ANOUILH, Jean. Antígona. Tradução Sidney Barbosa. Brasília/DF. Editora Universidade de Brasília, 2009.

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