Os
fatores “época” e “território” (espaço geográfico) são imprescindíveis para que
se compreenda a produção teórica e cultural de determinado período histórico. Em partes, é isso
que permite estabelecer semelhanças e diferenças entre Machiavel e Hobbes, que
viveram no que temos hoje como Itália e Reino Unido, respectivamente. Embora
ambos tracem teorias sobre a organização do Estado, cada um tem suas
particularidades. Em comum, o fato de ambos terem vivido em períodos muito
conturbados da história.
Niccolò MachiavelliFlorença, 3/5/1469 — 21/6/1527) |
Machiavel,
depois de ter vivido a glória de um alto cargo político, viu a ruína daquele
governo e na dureza do exílio, passou a escrever sobre o Estado de modo
totalmente realista, sem romantismos, contrapondo-se, portanto, ao idealismo
dualista de Aristóteles. Para Machiavel, o governo do Estado deve estar a cargo
de um “Príncipe” (principal, primeiro, mais importante) capaz de impor os
interesses comuns, conduzido pelos interesses do Estado, fazendo o que precisa
ser feito, sem preocupar-se se é bom ou ruim. Desse modo, um governante que de
deixasse guiar por pressupostos morais (ou religiosos, pior ainda) seria um
equívoco e um fracasso, inevitavelmente.
Thomas Hobbes (Malmesbury, 5/4/1588 — Hardwick Hall, 4/12/1679) |
Hobbes,
por sua vez, vai acentuar a necessidade do contrato, do pacto e de um mecanismo
de natureza impessoal que tivesse a capacidade de regular o controlar a
organização do estado. Concebeu, então, a ideia do Estado como um Leviatã, uma
espécie de mal necessário; um monstro que eliminava monstros maiores para que a
ordem e a paz social entre os humanos fossem mantidos.
Embora por caminhos
distintos, os dois autores acrescentam como grande contribuição à história da
formação do Estado moderno (em diante) o fato de que as vontades e liberdades
naturais dos homens precisam de regulação e controle pelo Estado. Bobbio, em
algum dos artigos de “A Era dos Direitos” vai situar esse momento como o de
explicitação da contradição vivida pelo indivíduo de que, para garantir suas
liberdades individuais deve privar-se dela e delegar ao Estado a
responsabilidade de controlá-las. Inicia-se aí uma era em que aos direitos
individuais passarão a ser discutida e elucidada a segunda geração de direitos:
os direitos políticos.
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