quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

CAÇADOR, BEM MAIS QUE UM RIO PEQUENINO

O primeiro verso do hino municipal, de autoria do senhor Oswaldo Olsen, proclama que "Caçador é um rio pequenino que deu nome à minha cidade", numa honrosa menção à natureza abundante e ao Rio Caçador - importante componente para o início da concentração de pessoas e formação da vila que, posteriormente receberia o mesmo nome.

Hoje, porém, o rio só não é mais esquecido porque serve de destino para os resíduos de agrotóxicos utilizados nas lavouras e para o esgoto domiciliar e industrial da área urbana. Igual (falta de) sorte tem o rio Castelhano e o Rio do Peixe. É uma pena. Precisamos avançar muito para que a "minha cidade" dos versos de Olsen passe a ser a NOSSA CIDADE e que ninguém aqui se sinta estrangeiro, para poder, então, estar bem à vontade. 

Precisamos passar de "capital da indústria" para capital da qualidade de vida, da solidariedade e da cidadania, onde as pessoas e o ambiente sejam colocados como prioridade em relação à exploração do trabalho. Na origem da cidade estão a extração indiscriminada de madeira e a pecuária extensiva realizadas em sesmarias doadas pelo Governo a fazendeiros e companhias colonizadoras que se apropriaram de imensas áreas de "terras devolutas" ocupadas por índios, caboclos e negros "posseiros" de longa data. Para fazer render esse capital obtido, via de regra, por meio de apadrinhamentos políticos, tais fazendeiros, madeireiros e coronéis lançaram mão da exploração de peões, capatazes e operários, uma lógica que ainda se mantém, de maneira camuflada e travestida de modernidade, caracterizando a postura de muitos empresários que, em pleno século XXI, insistem em tratar seus "colaboradores" como eram tratados os peões e capatazes no final do século XIX e primeira metade do século XX.

Enquanto perdurar essa mentalidade a cidade não será território de todos e apenas alguns poderão se sentir à vontade. Ao contrário, da mesma forma que o rio se tornou poluído, os pinheirais foram extintos e parte dos parreirais foi erradicada, a cidade manterá uma contradição estrutural que a impedirá ser a grande cidade "tão querida, (...) recanto dos amigos do Brasil".

Enfim, Caçador é bem mais que um '"rio pequenino" e uma cidade "minha". Está na hora de fazermos que todos os que "aqui trabalham" sejam respeitados e tratados como sujeitos de direito e não como peões dependentes dos "favores" dos seus compadres fazendeiros e donos de serraria, para que a cidade seja "nossa" e a vida seja mais que trabalhar para manter o status quo de algumas poucas famílias industriais e políticos demagogos. Administrar um município, um estado ou a Nação não é o mesmo que administrar uma empresa privada em favor do lucro de seu proprietário e, menos ainda, uma fazenda ou serraria dos primeiros tempos da Revolução Industrial. Repito que na vida pública não é lugar de se fazer o que se faz na privada. 

É preciso que o bem comum seja colocado acima de quaisquer interesses particulares, para que se assegure aos filhos da terra usufruir dignamente dos frutos do seu trabalho e o devido respeito na aplicação dos recursos públicos que os mesmos geram, coletivamente.

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