domingo, 28 de agosto de 2011

A IMPRENSA TRIBUNAL

A imprensa tem um papel importante: o de informar, comunicar fatos, emitir opiniões e formar opinião. O que a imprensa brasileira (e capitalista, em geral) tem jogado no lixo é um requisito fundamental para quem assume essa missão com ética, seriedade e responsabilidade. Só informa bem, comunica fatos e pode emitir opinião quem pesquisa, fundamenta suas hipóteses, verifica a diversidade de facetas, elementos e contradições existentes em torno do fato a ser noticiado.
Acontece que fazer imprensa, assim, dá muito trabalho e nem sempre causa o show desejado. Cada vez mais a imprensa está se habituando exatamente a fazer barulho em torno de hipóteses e não de fatos. Interessa à mídia falar primeiro, e não falar de modo fundamentado. Formulam-se as hipóteses e cria-se o sensacionalismo. Quanto mais mirabolante a hipótese e mais chocados ficarem os expectadores, melhor.
Feito o barulho a mídia deixa a população em geral fofocando, vira as costas e vai produzir outras factóides que gerem novas fofocas, atendam a seus interesses de mercado, audiência e lucro e sirvam aos interesses dos seus senhores.

E se, depois, provar-se que a verdade dos fatos é outra? Dane-se a verdade dos fatos. Verdade nem sempre atrai, nem sempre causa euforia, nem sempre gera fofoca, nem sempre vende e nem sempre serve aos interesses dos senhores. Vindo à tona a verdade, a mídia simplesmente continua de costas, como quem diz: "Tô nem aí.", ou "vem cá, eu te conheço?"
É passada a hora de aperfeiçoar os mecanismos de controles éticos e dos padrões democráticos de responsabilização da imprensa. Liberdade não significa império da vontade privada do dono do mercado da comunicação; liberdade não se confunde com arbitrariedade para julgar à revelia e condenar sem o devido direito a defesa prévia. Comunicar com liberdade não significa fazer o que bem entende, do jeito que bem quer, a serviço de interesses privados e conveniências de quem manipula o gatilho da imprensa a seu favor.

Precisamos fortalecer a imprensa livre e isso impõe o dever democrático de aumentar o nível de exigência e aceitação em relação aos produtos da mídia. E é preciso que se avance no instituto e nos mecanismos de reparação de danos e prejuízos causados por manchetes e notícias sensacionalistas, sem fundamento e sem o devido rigor de apuração preliminar dos fatos.
Pior ainda para aquelas empresas de imprensa que se auto delegam a função de juízes e tribunais.

A experiência popular já afirma há tempo que sabedoria não é necessariamente falar primeiro, ou falar mais. Sabedoria é falar com propriedade. Que a imprensa aprenda essa lição, ou pague o preço pela sua irresponsabilidade. Precisamos uma imprensa cada vez mais livre. Portanto, cada vez mais responsável.

Quem não tem o que dizer, que pesquise antes, estude, prepare, conheça o assunto ou fato sobre o qual pretende manifestar-se. Se tiver preguiça, for incapaz ou achar inconveniente fazer um trabalho sério, ache algo mais fácil para fazer ou mantenha-se calado. "Falar" dá trabalho mesmo e é um exercício exigente.

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